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CULTURA 11º
mandamento: Manter a coerência nas palavras e nos actos
A coerência é uma qualidade que fica bem a toda a gente. Deveria ser obrigatória para aqueles que, pelas suas funções, acabam voluntária ou involuntariamente por condicionar o comportamento das pessoas que com eles se identificam ou que acreditam que as suas palavras são leis, regras ou mandamentos. Isto vem a propósito de uma reportagem da responsabilidade de uma das nossas estações de televisão, reportagem essa em que o senhor bispo de Leiria desaconselhava o beijo na imagem do menino Jesus, cerimonial comum em muitas igrejas nas missas do dia de Natal. Alega o prelado em questão (e alega muito bem, na minha humilde opinião) que aquela tradição, além de manifestamente pouco higiénica, é perigosa para a saúde pública. Referiu que os resíduos de saliva que ficam na estatueta podem ser o veículo transmissor de doenças contagiosas! Permitam-me aplaudir as atiladas palavras do senhor bispo de Leiria! Estamos plenamente de acordo! Já a minha avozinha, há muitos e muitos anos, me tinha ensinado a colocar os dedos entre a minha boca e a imagem aquando do beijo obrigatório na Missa do Galo! Mas como sabemos que, nestas coisas, as tomadas de posição da Igreja são bastante prudentes (um eminente teólogo da nossa praça referiu, aqui há tempos, que a aparente lentidão da Igreja não é mais do que prudência), admitimos que mais vale tarde que nunca. A partir de agora acabaram as gripes sagradas apanhadas no joelho do menino Jesus aquando do beijo natalício! Esperei que, na sequência da ideia que tão acertadamente expunha, o senhor bispo também referisse que, preocupada com este tipo de contágios ocasionais, a Igreja retirava a proibição do uso de preservativos aos seus fiéis. No entanto, para meu espanto, nada disso aconteceu! Nem uma palavra! Os contágios perigosos resumem-se aos beijos nas imagens! A admiração que começava a sentir por aquele senhor sumiu-se como chuvisco nas areias do deserto! No Dia Mundial contra a Sida, num dia em que a informação que temos é que o aumento dos contágios daquela doença em Portugal se aproxima do susto colectivo, a Igreja continua a defender a proibição do uso de um dos meios preventivos mais eficazes! Seguindo o exemplo que nos vem de Bush e Gore, peço uma recontagem dos mandamentos e proponho que se inclua um 11º: Manter a coerência nas palavras e nos actos. por Jorge Santos - (http://pagina.de/apoios-educativos )
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